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Mundo Árabe: Internet dá voz a mulheres muçulmanas

Mundo Árabe: Internet dá voz a mulheres muçulmanas

by Tiago Leão

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Não há dúvidas de que a Internet é uma ferramenta poderosa quando falamos de direitos das mulheres. Estávamos em meados de 2013, quando um vídeo chocou o mundo. Nada al-Ahdal, uma menina de 11 anos, do Iémene, dava voz às jovens muçulmanas que, como ela, eram obrigadas a casar.

Com uma perspetiva tão adulta que surpreende, Nada al-Ahdal denunciava um cenário complexo: falou do desespero que leva ao suicídio de muitas meninas mulheres, retratou situações de alcoolismo e contou casos de violência doméstica que ela própria conhece.

A gravação correu o mundo e colocou o foco não só na questão do casamento forçado, mas também na forma como a Internet tem sido usada para dar voz aos problemas das mulheres muçulmanas.  E a verdade é que, embora ainda estejam em minoria, elas são cada vez mais.

De acordo com os números da Comissão de Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas (ONU), dos cerca de 2,8 mil milhões de utilizadores da Internet em todo o mundo, 1,5 são homens.

A disparidade é atenuada pelos números dos países desenvolvidos, no entanto, a diferença é enorme quando falamos de outros países, como o Egito, onde 75% dos smartphones apenas são utilizados por homens.

Neste artigo, mostramos-lhe como a Internet está a mudar o mundo árabe, contribuindo para o esbatimento das diferenças entre os géneros. Conheça agora alguns casos conhecidos ou nem tanto.

Amina Tyler: “O meu corpo é meu”

Amina Sboui, também conhecida por Amina Tyler, é tunisina e tinha 19 anos quando publicou no Facebook duas fotografias onde aparecia nua. No seu corpo tinha escritas as frases “que se lixe a moral” e o “o meu corpo é meu e não é uma fonte de honra para ninguém”. A jovem, que fazia parte do grupo FEMEN, manifestava-se assim contra a repressão das mulheres do seu país.

As imagens foram usadas pela imprensa local e Amina chegou até a dar entrevistas. Como reação, o site do grupo radical FEMEN foi hackeado e as fotografias das mulheres em topless foram substituídas por frases com conteúdo religioso.

Rapidamente, a resposta oficial chegou por parte dos representantes do Islão, que condenaram Amina Tyler a 100 chibatadas e ao apedrejamento.

Durante um período, Amina contou com o apoio da família que a ajudou a esconder-se. A jovem chegou inclusive a estar internada num hospital psiquiátrico para que não fosse capturada. Ainda assim, foi durante uma manifestação que acabou por ser levada para a prisão, onde ficou durante cerca de 3 meses.

O acontecimento voltou a chamar a atenção da comunidade internacional e foi o principal motivo por detrás do “Dia Internacional do Jihad de topless“. Durante este protesto, várias mulheres de todo o mundo despiram-se de preconceitos e mostraram os seios como forma de revolta.

Todavia, a reação não foi a melhor: em resposta, mulheres muçulmanas condenaram a ação das FEMEN, dizendo que aquela não era a forma de as salvar. Depois de sair da prisão, também Amina Tyler decidiu afastar-se do grupo por considerar que este era islamofóbico.

Mulheres muçulmanas: O sucesso no feminino

Embora o perfil de mulher moderna muçulmana ainda não possa ser completamente definido, a verdade é que existem algumas que dão cartas no estrangeiro. É o caso de Kiran Farooque. Nascida na Arábia Saudita, a especialista de Relações Públicas têm uma carreira de sucesso e trabalha atualmente no PPR WorldWide.

 

Kiran Farooque estudou em Londres e, para ela, a Internet não é uma realidade estranha. Muito pelo contrário, a relações públicas trabalha no seu dia-a-dia com redes sociais e ocupa o seus tempos livres com blogs de moda. Em entrevista a meios de comunicação social, a profissional conta que no início era confrontada com alguns familiares e amigos que lhe diziam que aquilo que colocava nas redes sociais não ia ao encontro dos preceitos do islamismo.

Também Hera Hussain luta contra a ideia de que a Internet representa um perigo à moral e bons costumes da mulher islâmica. Com o objetivo de ajudar as mulheres paquistanesas, a jovem deciciu criar uma organização, chamada Chayn, cujo objetivo é dar abrigo a todas aquelas que necessitem de ajuda.

Familiarizada com o universo das redes sociais e da Internet, a jovem que estudou na Universidade Glasgow e dedica-se agora à aplicação de estratégias de marketing social, apoiando causas humanitárias sempre no feminino. A ativista destaca um fenómeno crescente e diz que são cada vez mais as jovens que utilizam blogs para falar de abusos sexuais.

O pior país para se ser mulher

Embora falemos de um só Mundo Árabe, devemos salientar que, quando falamos de conservadorismo e de direitos das mulheres, há diferenças consideráveis de país para país. Segundo uma investigação levada a cabo pela Fundação Thomson-Reuters, o Egito é o pior país para se ser mulher. O ranking continua com o Iraque em 2.º lugar, a Arábia Saudita em 3.º, a Síria, em 4.º, e o o Iémene, em 5.º.

De acordo com a mesma investigação, 99% das mulheres no Egito já sofreram de algum tipo de assédio sexual. Casos de violação e violência doméstica são comuns, ainda que seja de realçar que o sexo feminino teve um papel importante na luta contra Mubarak, no processo conhecido como a Primavera Árabe, no Egito.

Na maioria destes países, as mulheres ou não têm qualquer peso, ou apresentam uma influência reduzida no que diz respeito ao mundo da política e da economia. Ainda assim, o crescente ativismo internacional e as manifestações têm vindo a mudar este cenário. Vejamos, por exemplo, o caso da atribuição do Nobel da Paz à paquistanesa, Malala Yousafzai.

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