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Como a Internet está a (re)despertar o ativismo jovem

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Como a Internet está a (re)despertar o ativismo jovem

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Numa revista da China continental, um autor do Taiwan traçou o retrato de uma nova geração mais empenhada nas questões sociais e ambientais do que os seus progenitores. Como seria de esperar, esta Geração Y recorre à Internet para defender as causas em que acredita.

Vamos recuar a 1980, à emancipação da sociedade de Taiwan e olhar para este caso para entender os dias de hoje. Há mais de 30 anos, teve início uma vaga de movimentos contestatários que acabaria por abalar fatalmente o regime do Taiwan. Nas universidades, os estudantes começaram a reivindicar o respeito pelos seus direitos e saíram dos campus para participar em ações sociais e políticas.

O ponto alto deste fenómeno de ativismo jovem foi o movimento conhecido como “lírio selvagem” no monumento a Chiang Kai-shek, dez anos depois, em março de 1990. Neste dia, uma grande manifestação reuniu muitos milhares de estudantes em frente ao memorial do dirigente histórico do Kuomintang; depois disso, foram organizadas greves da fome e reuniões de protesto para apoiar as reivindicações políticas e económicas. A partir de então, a intensidade do movimento estudantil foi diminuindo, ao ponto de muitos pensarem que tinha desaparecido por completo.

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Mas a ausência de ativismo jovem não significa que as tensões sociais se estejam a esbater. O que esta ausência requer é uma reflexão mais aprofundada. Noutros tempos, os opositores podiam atribuir todos os problemas ao partido há muito no poder no Taiwan. Mas hoje o alvo do descontentamento da nova geração já não é tão óbvio e os problemas são mais complexos.

Como os Media induziram o Ativismo Jovem a uma espécie de dormência

A geração atual de jovens é, em certa medida, mais superficial que a de há 20 anos, mas isto não é um problema específico dos jovens: faz-se sentir em toda a esfera pública de Taiwan, designadamente nos órgãos de comunicação que investem mais no entretenimento e sensacionalismo.

Em que medida os principais órgãos de informação contribuem hoje para ajudar os jovens a refletir e a formar opinião, promovendo assim espírito para ativismo jovem? É esta a questão essencial que se levanta.

Muitos lamentam a falta de interesse dos estudantes pelo passado e pela história. Mas que dizer dos meios de comunicação? Há vinte anos havia, sem dúvida, menos informação mas havia muito mais publicações que procuravam estimular a reflexão e a crítica.

Felizmente, estamos na era da Internet e existem muitos espaços públicos alternativos. Os jovens têm acesso a informação e conhecimentos mais vastos e mais aprofundados, o que pode ser uma resposta às dificuldades atrás mencionadas.

Do início dos anos 1990 até agora, as faculdades nunca tiveram falta de estudantes preocupados com a reforma do ensino superior ou empenhados em questões sociais. Desde há 6 ou 7 anos, ou seja, desde que a Internet se generalizou, vimos surgir uma nova geração de ativismo jovem.

Quem são estes ativistas?

Tudo começou com um grupo de jovens que decidiu defender o sanatório de Losheng, um estabelecimento que acolhe doentes com lepra e que faz parte do património histórico e cultural do Taiwan. O futuro do sanatório estava, no entanto, a ser posto em causa devido à construção de uma linha de metro. Porém, bastou este pequeno protesto jovem para criar um efeito bola de neve e organizar-se na Internet um movimento de protesto.

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Em finais de 2008, começou um movimento conhecido como morangos selvagens. Várias centenas de pessoas iniciaram um sit-in em frente à sede do executivo e instalaram-se em seguida na Esplanada da Liberdade para exigirem a revisão da legislação sobre o direito de reunião e de manifestação, que consideravam obsoleto e demasiado rígido.

 

A partir desse momento, foi visível um ativismo jovem forte em todos os movimentos sociais, em especial no aceso debate sobre as questões ligadas ao campo e ao ambiente.

Foram denunciados os prejuízos que o plano de revitalização do mundo rural podia causar à agricultura, os danos ambientais que poderão resultar da ampliação do Parque Científico no centro de Taiwan e, também, o impacto sobre a natureza e a alimentação causados pela construção da petroquímica Kuokuang, em Changhua. Estes jovens ativistas tornaram-se os pontas de lança destes movimentos.

Em finais de janeiro de 2011, desafiando o frio do Inverno, milhares de jovens organizaram na Internet uma noite de protesto em frente ao Ministério do Ambiente, em Taipei. Depois de cânticos e discursos, prolongaram o serão com debates. Falou-se sobre o golfinho corcunda do Pacífico e das zonas húmidas, da distribuição equitativa das terras e da proteção do ambiente em Taiwan.

O sol despontava anunciando a madrugada e ainda havia pessoas a dormir nos passeios. Quem organizou o protesto? Jovens, na sua maioria na casa dos 20 anos, membros da aliança da juventude contra a petroquímica Kuokuang.

Longe de constituir uma exceção, a manifestação demonstra, pelo contrário, uma característica importante dos movimentos de cidadãos em Taiwan nos últimos anos. Dantes, as associações e as ONG eram a principal força impulsionadora dos movimentos sociais e os estudantes eram, na maior parte dos casos, meros participantes.

Nos últimos anos, estes jovens – que, na sua maioria, não pertencem a nenhum grupo específico – têm desempenhado um papel importante, trabalhando de mãos dadas com a ONG. Uma das razões principais para explicar este fenómeno é sem dúvida a expansão da Internet que permite aos jovens entrarem em contacto e organizar a sua ação sem terem de passar pelas ONG.

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